Como era o Ensino nos Tempos Bíblicos

Embora o ensino religioso do povo bíblico haja nascido com Adão e Eva, nem sempre teve um caráter formal. No tempo de Abraão, a educação espiritual e moral das crianças hebreia era responsabilidade dos patriarcas. Eram estes considerados não apenas os chefes de suas famílias como também: profeta, sacerdote e professor do lar.

Eles detinham um poder irresistivelmente monárquico:

a. ditavam as normas;
b. arranjavam casamentos;
c. comandavam pequenos exércitos;
d. negociavam a paz;
e. estabeleciam tratados e alianças com outros clãs;
f. Orientavam a vida econômica de seus descendentes.

1. O Ensino no Antigo Testamento

O que mais os caracterizava, porém, era a sua responsabilidade espiritual e pedagógica. Sua missão era educar os filhos nos caminhos do Senhor, para que o conhecimento divino não viesse a perder-se entre a gente idólatra de Canaã e do Egito.

O Antigo Testamento registra a pedagogia de Deus em relação a Israel - cuja direção é interpretada pelo sacerdote, pelo profeta e pelo rei -assinalando um tipo de ensino mais pessoal e imediato:

“Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o maior até o menor deles, diz o Senhor; Pois perdoarei as suas iniquidades, e dos seus pecados jamais me lembrarei” (Jr 31.34).



Na verdade, a docência no AT significa o caminho pelo qual Deus conduz seu povo. São lembradas a cada geração, as maravilhas que o Senhor fez e cantadas suas bênçãos para o povo (SI 78). Esta recordação do povo judeu não é um mero exercício intelectual, mas uma dramatização na qual a geração mais jovem participa desses fatos.
A medida que se relata a história, o jovem israelita cruza com o povo o Mar Vermelho, acampa no deserto, recebe a Lei, entra no Pacto da Aliança com Deus e é introduzido na Terra Prometida. Trata-se, pois, de um relato que possibilita as novas gerações de participar da história de Israel, em Javé.

Por esta razão, a instrução tem lugar no culto, tanto no comunitário quanto no familiar. Essas cerimônias suscitam explicações, e estas levam à confissão e à esperança (Dt 6.20-25).

O período intertestamentário deu lugar à progressiva legalização do ensino religioso. A Torá (Pentateuco, Lei) perdeu muito de seu caráter dinâmico, transformando-se num emaranhado de conceitos que eram cumpridos mecanicamente.

A vontade de Deus viu-se cada vez menos como sua direção bondosa, e cada vez mais como um complexo de preceitos que exigiam um esforço penoso do ser humano. Reside aqui a essência do conflito entre Jesus e os escribas e fariseus (Mt 23).

1.1. Nos dias de Moisés

Além de promover o ensino nacional e congregacional de Israel, Moisés atribuiu muita importância à instrução domesticai Aos pais, exorta-os a atuarem como professores de seus filhos: “E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te” (Dt 6.6-7). Isto é clara e solenemente reiterado em Deuteronômio 11.19,20.

As reuniões públicas recebiam igual incentivo: “Congregai o povo, homens, mulheres e pequeninos, e os estrangeiros que estão dentro das vossas portas, para que ouçam e aprendam, e temam ao Senhor vosso Deus, e tenham cuidado de cumprir todas as palavras desta lei; e que seus filhos que não a souberem ouçam, e aprendam a temer ao Senhor vosso Deus, todos os dias que viverdes sobre a terra a qual estais passando o Jordão para possuir” (Dt 31.12,13).

O sistema educacional de Moisés foi eficientíssimo. Antes, os hebreus não passavam de um bando de vassalos; nem pela liberdade ansiavam de tão acostumados que estavam à servidão egípcia. Era-lhes suficiente a comida de Faraó. Sua noção de um Deus Único e Verdadeiro era precária, como precária sua percepção vocacional de povo santo, sacerdotal e profético. Com o surgimento de Moisés, todavia, começaram eles a olhar além das pirâmides e das margens do Nilo.

1.2. No tempo dos Reis, profetas e sacerdotes

Alguns reis de Judá, estimulados pelos profetas, restauraram o ensino da Palavra de Deus, encarregando desse mister1 os levitas. Eis o exemplo de Josafá: “No terceiro ano do seu reinado enviou ele os seus príncipes, Ben-Hail, Obadias, Zacarias, Natanel, Micaías, para ensinarem nas cidades de Judá; e com eles os levitas Semaías, Netanias, Zebadias, Asael, Semiramote, Jônatas, Adonias, Tobias, Tobadonias e, com estes levitas, os sacerdotes Elisama e Jeorão. E ensinaram em Judá, levando consigo o livro da Lei do Senhor; foram por todas as cidades de Judá, ensinando entre o povo” (2Cr 17.7-9).

O bom rei Josafá incumbiu os príncipes do ensino da Lei de Deus.

1.3. Na época de Esdras
Foi Esdras um dos maiores personagens da história hebréia. Entre as suas realizações, acham-se os estabelecimentos das sinagogas em Babilônia,(cTensin5~5isteffiatíco3e popularizado da Palavra de Deus na Judeia e, cléTacordo com a tradição, a definição e fixação do cânon do Antigo Testamento.

Provavelmente foi ele também o autor dos livros de Crônicas, Neemias e da porção sagrada que leva o seu próprio nome.

Nascido em Babilônia durante o exílio, Esdras viria a destacar-se como escriba e doutor da Lei (Ed 7.6). No sétimo ano de Artaxerxes Longímano (458 a.C.), recebe ele a autorização para transferir-se à terra de seus antepassados. Acompanham-no grande número de voluntários, que, consigo, trazem dinheiro e material para reerguer o templo e restabelecer o culto sagrado.

Se a tradição judaica estiver correta, a maior realização de Esdras, como pedagogo, foi o estabelecimento das sinagogas durante o exílio judaico em Babilônia. Os judeus longe de sua terra, distantes do Santo Templo e afastados de todos os rituais do culto levítico, através de Esdras, juntamente com outros escribas e eruditos, fundaram uma escola para funcionar como lugar de adoração, como local de instrução e alfabetização e como centro de preservação da cultura hebréia. Nasce, assim, a sinagoga.

Foi no âmbito desse edifício, muitas vezes simples e rústico, que a religião mosaica pôde manter-se incontaminada numa terra onde prevalecia a vil idolatria.

A Escola Bíblica Dominical, como hoje a conhecemos, tem muito da antiga sinagoga. Dedicam-se ambas ao ensino relevante e popularizado da Palavra de Deus.

Já na Terra de Promissões, Esdras continuou a ensinar a Palavra de Deus aos seus contemporâneos. Em Neemias capítulo oito, deparamo-nos com uma grande reunião ao ar livre.

2. O Ensino no Período Inter-Bíblico

O período helenista começou com Alexandre, o Grande, passando pelo período grego romano, num tempo aproximado de trezentos anos. Corresponde mais ou menos ao período inter-bíblico. Foi nesse tempo que a língua e cultura gregas se espalharam pelo mundo civilizado da época.

O helenismo foi um fenômeno cultural, militar, religioso e político e, naturalmente, influenciou o judaísmo e o cristianismo. No tocante a educação, os sistemas do helenismo tinham suas raízes nos sistemas radicalmente diferentes de Esparta e Atenas.

• Esparta: frisava o aspecto militar e o indivíduo era subjugado, tornando-se subserviente ao Estado.

• Atenas: enfatizava a filosofia, as artes e as ciências. A idéia era o máximo de treinamento e desenvolvimento do indivíduo, de maneira tal que pudesse produzir o máximo, em benefício da cultura geral.

* Platão foi um pioneiro na filosofia da educação. Em sua obra, República, ele oferece detalhes sobre suas ideias educacionais, enfatizava o aspecto científico.

* Sócrates foi o mestre de Platão, e também foi supremo mestre da ética.

* Aristóteles foi pupilo deste e tornou-se o maior cientista da época. Ambos elaboraram teorias arrojadas sobre o conhecimento.
* Alexandre, o Grande, foi aluno de Aristóteles e tornou-se um propagador da cultura grega de todos os tipos, em todo o mundo conhecido de seus dias.
As filosofias de Platão e Aristóteles continuaram a dominar o pensamento do mundo civilizado por muitos séculos, juntamente com o (estoicismo e o epicurismo). Platão exerceu uma imensa influência sobre o pensamento religioso e o neoplatonismo foi uma adaptação de suas ideias.

3. No período do ministério terreno de Cristo

O ensino de Jesus restabeleceu a finalidade central da ação redentora da graça de Deus (Rm 5.1-11; 17-20). Os Evangelhos revelam Jesus como o Mestre que, com seu exemplo e sua autoridade, veio transformar as pessoas de maneira total e absoluta (Jo 3.16-17).

Para Jesus, o ensino era a ilustração do comportamento de Deus em relação aos homens na manifestação de seu Reino sobre a totalidade da vida do ser humano. Assim, a ação de Deus é, a um só tempo, a doutrina de Deus e o ensino de Deus: Jesus Cristo é o Mestre, de modo bem distinto dos escribas e fariseus.

A promessa contida em Isaías 54.13 foi cumprida integralmente pelo Nazareno: “Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo” (Mt 4.23).

A Bíblia Sagrada mostra-nos Jesus como o Mestre que transforma as pessoas de maneira completa (2Co 5.17). E o seu ministério é tipicamente um ministério docente: ensinava pregando e, pregando, ensinava (Mt 11.1).

Suas memoráveis parábolas (Mc 4.2), seus diálogos inesquecíveis em situações e circunstâncias das mais diversas (Mt 15.21-28; 16.13-20; 20.20-28; Mc 2.23-28; 5.35-43; Lc 18.18-30; 22.14-18; Jo 3.1-21; 4.1-41) e sua doutrina ensinada aos discípulos de ontem, de hoje e de sempre o credenciam como o Educador por excelência. Por meio de Jesus, é o próprio Deus quem nos ensina!

4. Jesus Cristo, o educador por excelência!

Foi o Senhor Jesus, durante o seu ministério terreno, reconhecido como o Mestre por excelência. Afinal, Ele era e é a própria sabedoria. NEle residem todos os tesouros do conhecimento, da sabedoria e da ciência (Cl 2.3).

No final do século II, Clemente de Alexandria intitulava-o de Educador por antonomásia: O Guia celestial, O Verbo, uma vez que começa a chamar os homens à salvação... cura e aconselha ao mesmo tempo. Devemos chamá-lo, então, com um único título: Educador dos humildes...

“Como ousaremos tomar para nós mesmos, como indivíduos e como Igreja, o título que corresponde somente a Ele? Que implicação tem este título para cada um de nós? Não é este o grande desafio da educação cristã?”.

Era o Senhor admirado por todos, pois a todos ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas e fariseus (Mt 7.29).

Em pelo menos 60 ocasiões, é o Senhor Jesus chamado de Mestre nos Evangelhos. Pode haver maior distinção que esta? Isto, porém, era insuportável aos escribas e rabinos por não terem condições de competir com o Filho de Deus.

Jesus não se limitava a ensinar nas sinagogas. Ensinava nas casas, nas mais esquecidas aldeias, à beira mar, num monte e até mesmo no Santo Templo. Sempre encontrava ocasião e oportunidade para espalhar as boas novas do Reino de Deus.

Ele curava os enfermos, realizava sinais e maravilhas e operava singulares prodígios. Mas, por maiores que fossem suas obras, jamais comprometia o ministério do ensino.

Antes de ascender aos céus, onde se acha à destra de Deus a interceder por todos nós, deixou com os apóstolos estas instruções mais que explícitas:

“Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos” (Mateus 28.19,20).

Referência: Educação Cristã – IBADEP.