Introdução
Uma
das primeiras lições que se aprende em Teologia acerca de Deus é que “Deus é
espírito” e, por isso, Ele é autoexistente, não criado por outro ser,
atemporal, autossuficiente, não restrito a nenhum determinado ponto geográfico (ver
Jo 4.24). O fato de Deus manifestar seu desejo de habitar com o seu povo não o
limita a nada. Ele tem origem em si mesmo, ou seja, Ele existe por si mesmo
quando diz: “Eu Sou o Que Sou” (Êx 3.14).
I. Uma Morada Terrena para a Divindade
A
ordem dada a Moisés para construir uma morada para Ele tinha por objetivo
mostrar o seu Espírito, fazendo-se sentir pelas manifestações especiais da
natureza, como fogo, nuvem, água, relâmpagos e trovões sobre o lugar da sua
presença, ou seja, a sua Shekinah.
Para
entendermos essa dimensão da Divindade, devemos considerar o projeto de construção
do Tabernáculo. Estudar e conhecer a estrutura do Tabernáculo com seu
mobiliário, suas medidas e materiais revela um Deus que se identifica com o seu
povo utilizando as coisas materiais para facilitar a compreensão do povo de
Israel. Desde que o Senhor mostrou o modelo a Moisés no Monte Sinai, deu a ele
ordens para serem obedecidas cuidadosamente. As coisas de Deus são perfeitas
porque Ele é perfeito em todas as suas obras (2 Sm 22.31; Mt 5.48). Portanto, o
Tabernáculo (ohel e mishkan, heb.)
era o lugar onde o Senhor habitaria com o seu povo depois da sua saída do
Egito.
II. Cinco Razões por que Deus Concedeu o Tabernáculo a
Israel
Há
pelo menos cinco razões da parte divina para a construção do Tabernáculo:
A Primeira Razão do Coração
de Deus Era o Desejo de Habitar com os Homens
Em
primeiro lugar, Deus deu a ordem: “E me farão um santuário, e habitarei no meio
deles” (Êx 25.8). O Tabernáculo seria a morada de Deus entre o seu povo. Esse
desejo divino é percebido nas Escrituras quando Deus revela-se a si mesmo ao
homem. Ele aparece caminhando no jardim do Éden para comunicar-se com suas
criaturas humanas, que foram criadas por Ele para sua glória.
Em segundo lugar,
vemos Deus revelando-se a si mesmo a Moisés no monte Horebe, envolvido na sarça
ardente (Êx 3.4), e, logo depois, Ele manifesta-se de modo incisivo a Moisés, dando-lhe
instruções para libertar os hebreus da escravidão egípcia (Êx 3.5-12).
Em terceiro lugar,
depois que os hebreus são libertados do Egito, Deus manifesta-se de modo
espetacular no Monte Sinai envolvido numa coluna de nuvem durante o dia; às
noites, Ele demonstrava sua presença numa coluna de fogo sobre o Tabernáculo
(Êx 13.21).
Em quarto lugar,
quando Moisés acabou de construir o Tabernáculo, a glória de Deus apareceu
brilhante na mesma nuvem (Êx 40.34). A presença divina esteve constante na
marcha de Israel no deserto, e Deus falava com Moisés fazendo-se ouvir do
centro daquela nuvem de glória.
Em quinto lugar,
quando Salomão acabou de orar a Deus depois da inauguração do Grande Templo, a
glória de Deus manifestou-se em fogo sobre o altar dos sacrifícios e encheu toda
a casa (2 Cr 7.11).
Em sexto lugar,
quanto à habitação de Deus com os homens, algo maravilhoso e ímpar aconteceu,
porque Deus revelou-se e habitou entre nós na Pessoa de Jesus Cristo, seu Filho
Amado, cumprindo-se a palavra de João: “E o Verbo se fez carne e habitou entre
nós [...]” (Jo 1.14). O vocábulo “habitou” no grego do Novo Testamento é “skenoo”, que significa “tenda”, “morada”,
“tabernáculo”. Ele (Jesus Cristo) montou seu tabernáculo entre nós, e nós
“vimos a sua glória” (Jo 1.14).
A Segunda Razão do Coração de Deus Era Fazer do
Tabernáculo uma Antecipação das Glórias que Viriam depois
Não
é difícil entender que o Tabernáculo era um tipo perfeito de Cristo. Quando Ele
terminou sua obra na terra, a Bíblia diz que Ele ascendeu ao céu, ou seja, ao
seio do Pai Celestial, e, então, enviou o Espírito Santo para habitar na sua Igreja,
ou seja, na vida pessoal de cada crente (Jo 14.16,17). O final do versículo 17
diz: “[...] porque habita convosco e estará em vós”. Quando um pecador
arrepende-se de seus pecados e declara que Jesus é o Salvador e Senhor, o
Espírito Santo é-lhe dado como “penhor da nossa herança”, ou seja, garantia de
todas as promessas de Deus (Ef 1.14). Outrossim, quando o Espírito entra na vida
de um pecador remido, passa a habitar dentro dele, e seu corpo passa a ser
templo do Espírito Santo (1 Co 6.19). Se, antes no Antigo Testamento, ninguém
podia chegar a Deus a não ser pelo sumo sacerdote, agora temos acesso a Deus
Pai por meio de Jesus Cristo (Hb 4.16).
A Terceira Razão do Coração
de Deus É Ensinar o Conflito entre a Santidade de Deus e a Pecaminosidade do
Homem
O
propósito de Deus ao ordenar a construção do Tabernáculo com todas as suas
restrições de acesso ao Lugar Santíssimo era mostrar o caminho para desfazer o
conflito entre a santidade de Deus e a pecaminosidade do homem. Ora, no
Tabernáculo, encontram-se Deus e o homem, e o conflito precisa ser dirimido.
O
caminho para desfazer esse conflito não é o das religiões, nem o das boas obras,
nem o das justiças humanas. O caminho indicado por Deus é um só, que é Cristo e
sua obra expiatória no calvário. Tudo isso é prefigurado no Tabernáculo,
predito nas profecias bíblicas e confirmado pelo próprio Senhor e seus
apóstolos. Há um só caminho (Jo 14.6) e um só mediador entre Deus e o homem (1
Tm 2.5); há um só sacrifício, através do qual se efetuou uma eterna redenção
(Hb 9.12).
A Quarta Razão do Coração de Deus para a Construção do
Tabernáculo Era Tornar aquele Lugar um Lugar de Adoração e Louvor a Deus
Tabernáculo
chamava a atenção de todo o povo, porque a glória de Deus manifestava-se de
modo especial naquele lugar. O Senhor manifestava-se a si mesmo naquele lugar
através da palavra dos líderes do povo, especialmente Moisés e Arão. No NT, a
glória de Deus é manifestada através do Espírito Santo, porque Jesus disse que
rogaria ao Pai e enviaria “outro Consolador, para que [estivesse com seus
discípulos] para sempre” (Jo 14.16).
No
AT, Deus tinha a Arca, o Castiçal de Ouro, o altar do incenso e a mesa dos pães
da proposição. No NT, o modo de adorar tornou-se diferente e especial, porque o
lugar da adoração é uma Pessoa, o próprio Senhor Jesus Cristo. Nessa gloriosa
Pessoa, Deus encontra-se com o homem, e este com Deus. Por isso, não é a igreja
que salva, e sim uma Pessoa que salva (Jo 14.6). Não há um templo, nem um nome,
nem mesmo outro fundamento. Para adorar a Deus, fazemo-lo pelo nome de Jesus
Cristo (Mt 18.20).
A Quinta Razão do Coração de Deus para a Construção do
Tabernáculo Era a Necessidade de um Lugar para os Sacrifícios
A
Bíblia faz entender que se podia apaziguar o poder da justiça contra o pecado
mediante os sacrifícios oferecidos a Deus. Era, também, um modo de aproximar-se
do Criador. Na história de Abraão, o velho patriarca entendeu que não podia chegar-se
a Deus, senão mediante um sacrifício. Na sua descendência posterior, o povo de
Israel entendeu a importância da Páscoa e das ofertas oferecidas ao Senhor por
seus pecados. Por isso, a instituição do Tabernáculo foi a mais expressiva mensagem
divina de amor e perdão para com o povo escolhido.
Todo
o sistema levítico foi elaborado em torno dos sacrifícios, porque esse era o
modo de poder chegar a Deus. O sistema dos sacrifícios satisfazia a santidade
divina, que requeria justiça e a sua devida punição, e a única maneira de
satisfazer a plena e perfeita justiça divina era a oferta pelo pecado através
de um só sacrifício mediante o sangue inocente que substituiria o pecador.
A
porta exterior sempre estaria aberta para o pecador, e o fogo consumidor estaria
ardendo sobre o altar dos sacrifícios. Tudo isso indicava que Deus estava
sempre disposto a receber as ofertas voluntárias de seu povo pelos seus
pecados. Assim como o derramamento de sangue do animal representava um alto
custo da salvação, nada menos que o sangue de Cristo seria suficiente para
satisfazer a pena do pecado por quem Jesus morreu. Deus tem avaliado nossa
salvação a um custo nada menor que este: o derramamento do sangue de Jesus (ver
Is 53.10).
Numa
tipologia especial, entendemos que o sacrifício da cruz revela a glória do
caráter de Deus. Ora, como ver a glória divina na obra expiatória da cruz? Paulo
disse aos romanos: “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela
redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.24). Mais a frente, Paulo diz: “Mas Deus
prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda
pecadores” (Rm 5.8).
Publicação: www.escolabiblicaecb.com | Artigo:
Pr. Elianai Cabral