Introdução
Ao estudar sobre a
Igreja de Cristo na terra precisamos conhecer sua natureza, ordenanças, missão
e governo.
I. PERSPECTIVA BÍBLICA E TEOLÓGICA
1. Uma visão cristocêntrica da Igreja.
Em Mateus 16.18
Cristo cita duas palavras da mesma raiz, mas com significados diferentes, que
expressam a dimensão exata da revelação. A primeira, petros (o nome do discípulo), significa um fragmento de pedra. A
segunda, petra, traduz-se como rocha
inabalável (1 Pe 2.4-7). Está claro que o Senhor, ao mesmo tempo em que
reconheceu a sensibilidade espiritual de Pedro, como um fragmento de pedra,
deixou também estabelecido que a Igreja seria edificada sobre aquela pedra
inabalável - Cristo, o Filho do Deus vivo - isto é, a confissão pública sobre
Cristo, que o apóstolo acabara de fazer.
2. O sentido da palavra “igreja” no original.
O termo “igreja” no
original grego é composto da preposição ek
“fora de” e o verbo kaleõ “chamar”.
Igreja (ekklêsia) denota um grupo de
cidadãos “chamados para fora”. Corresponde literalmente a “uma convocação de
cidadãos de uma cidade para fora de suas casas mediante o soar de uma trombeta
a fim de reuni-los em assembleia”. Os verdadeiros crentes são convocados para
fora do pecado, para viverem em plena comunhão com o Senhor Jesus Cristo.
3. A Igreja na perspectiva do Novo Testamento.
Nesta parte da Bíblia
temos vários conceitos sobre a Igreja.
a) Igreja visível e
invisível.
A Igreja é um só
organismo independente dos títulos e das denominações existentes. Entretanto
ela pode ser vista sob dois aspectos: visível e invisível. A Igreja invisível
representa singularmente o povo de Deus espalhado em todo o mundo, enquanto que
a Igreja visível refere-se à igreja local, a uma comunidade de pessoas num
determinado lugar.
b) Corpo universal de
Cristo.
A Igreja de Cristo
como corpo possui diversos órgãos e muitos membros, mas todos trabalham de
forma orgânica e harmônica, interligados, em função do corpo. Ela é composta de
todos os cristãos autênticos em toda a história do cristianismo (Mt 16.18; 1 Co
12.27; Ef 3.10,21; 5.23-32; Hb 12.23). São milhões de membros espalhados pelo
mundo. Quando todos cumprem a sua parte, a Igreja se beneficia, mas se algum
deles está enfermo espiritualmente e não é logo restaurado, afeta todo o corpo.
c) Igreja local.
A igreja local é o
lado visível da Igreja que vivência em sua forma comunitária a mesma herança
apostólica, os mesmos ideais de vida, e as mesmas expressões de fé (Rm 16.1; Cl
4.16; G1 1.2,22; At 14.23).
A vida em comunidade
foi uma das características predominantes dos cristãos primitivos (At 2.46; 4.32,33;
5.42; 12.5,12). Eles frequentemente se reuniam motivados sempre pela mesma razão:
a fé no Cristo ressuscitado.
d) Igrejas
domésticas.
Como não havia
templos cristãos construídos no primeiro século da Era Cristã, os crentes
daquela época tinham por hábito reunirem-se nas casas, uns dos outros (1 Co
16.19; Rm 16.5,23; Fm v.2). Essas igrejas domésticas acomodavam perfeita-mente
o corpo de Cristo naquelas localidades. Cada igreja local ou doméstica era a
manifestação física e visível da Igreja universal.
II. A RAZÃO DE SER DA IGREJA
1. A Igreja é o mistério da vontade de Deus que estava
escondido.
Segundo o que Paulo
escreveu aos efésios, a Igreja era o mistério que estava escondido e que em
Cristo foi desvendado: “desvendando-nos o mistério da sua vontade” (Ef 1.9).
Deus, o Pai, planejou a Igreja antes da fundação do mundo, porém, a sua
concretização efetivou-se na revelação de Jesus Cristo. A questão é: Com que
propósito este mistério estava escondido? O propósito era resgatar o controle
do Universo usurpado por Satanás (Ef 1.9,10).
Deus haveria de
“convergir em Cristo todas as coisas” (Ef 1.10). Essa revelação aconteceria “na
plenitude dos tempos”, isto é, quando a medida do tempo de Deus chegasse ao
limite. O tempo chegou quando Cristo, enviado pelo Pai, sendo Deus, fez-se
homem para resgatar a autoridade usurpada pelo Diabo. Ele veio para buscar o
que se havia perdido (Lc 19.10); para despojar a Satanás e seus anjos dos
poderes roubados e triunfar sobre eles (Cl 2.15); para reconciliar o mundo com
Deus, satisfazendo a justiça ultrajada de Deus (2 Co 5.19-21) e, para
readquirir os direitos divinos sobre todo o Universo, por direito de criação e por
direito de redenção.
2. A Igreja representa a criação de uma nova humanidade
em Cristo.
Efésios 2.15 diz:
“ele aboliu na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para
que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz”. Ao referir-se
a “dois homens”, metaforicamente o texto quer dizer, dois povos; judeus e
gentios. Deus quis fazer dos dois, um só povo, uma nova humanidade, a Igreja.
Trata-se de uma criação no plano espiritual mediante a obra regeneradora do
Espírito Santo.
A Igreja tem a vida
do Espírito e cumpre a missão de reconciliar o mundo com Deus (Rm 8.18-23; 2 Co
5.19).
III. A IGREJA LOCAL E O TRATAMENTO
ESPECÍFICO DE DEUS
Vejamos alguns
modelos de igrejas locais:
1. A igreja em Jerusalém (At 2.46,47).
Foi o primeiro grupo
de crentes formado após a descida do Espírito Santo no Pentecostes (At 2.1).
Naturalmente, não havia templos cristãos ainda, pois a Igreja era recém-nascida
e os convertidos reuniam-se no alpendre do Templo de Salomão (At 2.46;
5.12,20,21,25) e nas casas de famílias (At 2.46; 5.42).
2. A igreja de Corinto (1 Co 1.2).
Nesta igreja, o
Espírito Santo manifestava-se de modo especial. No primeiro livro dirigido a
essa igreja está o conteúdo principal da doutrina dos dons espirituais (1 Co
12,13,14) - uma das doutrinas vitais para todas as igrejas em todo o mundo.
3. A igreja de Tessalônica (1 T s 1.1).
Neste texto o
apóstolo Paulo refere-se à “igreja dos tessalonicenses em Deus”. A expressão
“em Deus” indica que os cristãos daquela cidade, formavam “a igreja local”,
isto é, estavam unidos como um só, em Deus. A referência à igreja local, nada
tem a ver com qualquer denominação evangélica, pois a expressão “igreja local”
tem um sentido genérico e refere-se aos cristãos que formam a igreja num
determinado local.
4. Os membros da igreja local.
Um exemplo que
ilustra a igreja local é o da “igreja que estava em Antioquia” (At 13.1). Esse
capítulo fala de uma reunião dos membros dessa igreja para decidirem sobre sua
expansão para outros lugares. Aqueles irmãos, sob a direção do Espírito Santo,
decidiram enviar algumas pessoas para outras cidades.
A igreja local é uma
comunidade de pessoas que agem e interagem como os membros de um corpo (1 Co
12.18). Esses membros estão distribuídos no corpo e cumprem, cada qual, a sua
função (Ef 4.16; 1 Co 12.11). Desenvolvem um relacionamento social e espiritual
(Rm 12.5), pois “ninguém busque o proveito próprio, antes cada um o que é de
outrem” (1 Co 10.24).
5. As ordenanças de Cristo à igreja local (At 2.37-41; Lc
22.14-20; 1 Co 11.23-30).
Esses textos falam de
duas ordenanças de Cristo para os seus discípulos: o batismo em águas e a santa
ceia. Em Atos 2.41, os discípulos levaram a sério a ordenança do batismo, o
qual representa o arrependimento de toda pessoa que aceita e crê em Cristo como
Salvador e Senhor (At 8.13,16; 36-38; 10.47,48; 16.33; 19.3).
batismo seria por
imersão de corpo inteiro sob as águas em nome da Trindade Divina (Mt 28.19). A
segunda ordenança foi a comunhão celebrada pela ceia com pão e vinho, símbolos
da sua carne e do seu sangue. A finalidade da ceia era estabelecer um memorial
(Lc 22.19), para lembrar os sofrimentos e morte do Senhor Jesus Cristo,
sobretudo, o seu sangue que nos trouxe a expiação de nossos pecados.
CONCLUSÃO
A humanização do
Verbo, através do nascimento virginal, constituiu-se no início da revelação do
mistério de Deus ao mundo. Deus irmanado conosco (Mt 1.23), começou a transpor
de sua mente para a realidade humana a parte final do plano que Ele mesmo
determinara. Ou seja, fazer de todos quantos recebem a Cristo como seu
Salvador, quer judeus ou gentios, um só corpo pela agência do Espírito Santo.
Toda a concepção divina para a redenção humana passa por Jesus. Ele é a pedra
angular do plano eterno de Deus em relação ao mundo.