1. Definição.
Possessão demoníaca é o
controle direto de um ou de vários demônios sobre uma pessoa, quando se apossam
dela. Todos, cristãos e não cristãos, são influenciados e afetados pela
atividade demoníaca, mas nem todos são possuídos. Fazendo uma analogia, a
influência demoníaca está para a possessão demoníaca como a providência geral
está para os milagres especiais. Os indivíduos possuídos não são capazes de
livrar-se do controle do(s) demônio(s).
As expressões estar
“possesso” ou estar “endemoninhado” aparecem 13 vezes no Novo Testamento -
todas elas nos Evangelhos (e.g. Mt 4:24; 12:22; Mc 5:15-18; Lc 8:36; Jo 10:21).
O fenômeno do exorcismo ocorre com o uso de ordens como “sai” (Mc 1:25,26;
9:25).
Após o dia de Pentecostes, a
possessão demoníaca e o exorcismo são mencionados apenas em Atos 5:16; 8:7;
16:16-18; 19:12. É mais provável que o dom espiritual de discernimento de
espíritos (1 Co 12:10) esteja relacionado com a habilidade de distinguir entre
as verdadeiras e as falsas fontes de revelação sobrenatural (quando feitas
oralmente) do que com a habilidade de expulsar demônios das pessoas.
2. Características.
As características da
possessão demoníaca podem ser tão variadas quanto a atividade dos demônios,
desde algo mínimo até atitudes bizarras.
Não existem muitos sintomas
específicos descritos nos relatos, mas são mencionados os seguintes:
anormalidades físicas, como mudez, cegueira e convulsões (Mt 9:32; 12:22; Lc
9:39); tentativas de autodestruição (Mc 5:5; Lc 9:42); insanidade (pelo menos
essa era a crença das pessoas, Jo 10:20); força sobrenatural (Mc 5:3,4) e
forças ocultas (At 16:16-18).
Ainda que os demônios possam
fazer essas coisas nas pessoas, isso não significa, por exemplo, que toda
doença seja originada pela atuação demoníaca. O doutor Lucas distingue
claramente as doenças causadas pelos demônios e as que possuem causas naturais
(At 5:16).
3. Descrição de possessão demoníaca no
Haiti
A pessoa entra em um estado
parecido com um transe (normalmente após ter convulsões), durante o qual um dos
espíritos entra em seu corpo e o “domina”. A personalidade humana é substituída
pela sobrenatural, os traços humanos são substituídos pelas características dos
espíritos (masculino ou feminino, bom ou mau, jovem ou velho, malicioso ou
honesto), e a garganta emite os grunhidos do espírito. Alguns deles falam uma
espécie de “língua” ininteligível.
A possessão pode durar
minutos ou horas, às vezes até mesmo dias. Durante esse tempo, a pessoa tomada pelo
espírito consome a bebida e a comida prediletas do espírito (algumas vezes,
algo quase impossível de ser digerido pelo ser humano) e lhe oferecem suas
diversões favoritas. No final de tudo, o ser humano não se lembra de nada de
seu comportamento durante o transe.
SAIBA MAIS – Veja:
1)
Possessão Demoníaca e a Autoridade do
Nome de Jesus, Clique
Aqui
2)
Dois endemoninhados de Gadara, Clique
Aqui
3)
O Pode de Jesus sobre o reino das Trevas,
Clique
Aqui
4. Extensão.
A possessão demoníaca está restrita aos
não-cristãos ou também pode ocorrer com cristãos? Em outras palavras, um cristão pode ser
possesso por demônios hoje em dia? O argumento contra a possibilidade de um cristão
ser possuído se apoia muitas vezes no fato de que o Espírito Santo está no
coração do cristão. Ou seja, como o Espírito habita no cristão, é impossível
que Satanás ou os demônios também habitem ali e se apossem do cristão.
Mas a carne e o sangue não
lutam entre si no interior do cristão (G1 5:16,17)? Se formos argumentar que o
velho homem já foi julgado (Rm 6:6), também podemos dizer que Satanás também já
foi julgado (Jo 12:31). Então, se o Espírito e a carne, o velho e o novo, podem
estar presentes ao mesmo tempo na vida de um cristão, por que o mesmo não pode
ocorrer com o Espírito e Satanás (ou os demônios)?
Os versículos citados para
apoiar a ideia de que os cristãos podem ser possuídos por demônios normalmente
são estes: 1 Samuel 16:14; Lucas 13:11-16; Atos 5:3; 1 Coríntios 5:5; 2
Coríntios 11:4 e 12:7. Mas, ao examinar esses versículos,
vemos que não provam que os cristãos podem ser possuídos por demônios. Talvez
essa questão deva ser analisada de maneira distinta.
Em lugar de perguntar se um
cristão pode ser possuído por demônios, deveríamos perguntar se os demônios ou
Satanás podem atuar no interior de um cristão tanto quanto no seu exterior.
Logo, a “base de operação” de Satanás ou dos demônios pode ser tanto dentro
quanto fora do cristão?
a)
Um espírito maligno atormentava Saul
A referência em 1 Samuel diz
que um espírito maligno atormentava Saul, mas não sabemos, ao certo, se ele
operava em seu interior ou se no exterior. Tampouco conhecemos, com certeza,
qual era a condição espiritual de Saul diante de Deus. Lucas atribui a
deformidade da mulher a um demônio, mas o Senhor a chama de “filha de Abraão”.
Alguns entendem que esse é um exemplo claro da atuação de um demônio no
interior de um crente. No entanto, não está claro se a expressão “filha de
Abraão” indica que ela cria em Jesus ou se apenas fazia parte do povo escolhido
de Deus, Israel. Ela, certamente, não era uma fiel no sentido que a palavra
assumiu após o Pentecostes.
b)
A punição do “irmão pecador” de 1 Coríntios 5
A punição do “irmão pecador”
de 1 Coríntios 5 envolvia entregá-lo a Satanás (veja também 1 Tm 1:20). Mas é
discutível se isso significava que Satanás ou os demônios estariam trabalhando
dentro de sua vida ou se simplesmente estaria sendo excluído da comunhão e da
proteção da Igreja contra o domínio de Satanás (este mundo).
O “espírito diferente” de 2
Coríntios 11:4 é tão demoníaco quanto o ‘outro Jesus” mencionado no mesmo
versículo. E esse “outro evangelho” que aprisiona. A base de operação do
mensageiro de Satanás (um demônio) que Deus enviou para afligir a Paulo não
está claro em 2 Coríntios 12:7. O
resultado foi o “espinho na carne”, mas isso não significa que o demônio
necessariamente habitava em Paulo.
c)
Satanás encheu o coração de Ananias
Atos 5:3 declara que Satanás
encheu o coração de Ananias para fazê-lo mentir ao Espírito. No original, o
verbo “encher” é a mesma palavra usada em Efésios 5:18 para falar do enchimento
do Espírito. Temos motivos para acreditar que Ananias era um cristão fiel. Essa
é uma clara demonstração de que Satanás realmente pode encher o coração de um
cristão. Nessa passagem, nada é dito a respeito de demônios, embora devamos
considerar que, se Satanás encheu o coração dele, então os demônios podem fazer
o mesmo.
Como avaliar essa evidência?
Veja estas duas sugestões: Primeiro, deveríamos descartar frases como “possessão
demoníaca” e “tomado por demônios” quando nos referimos a cristãos, pois nossa
tendência é ver nessas expressões os mesmos conceitos e a mesma ideia de
habitação do Espírito Santo (isto é, uma residência permanente no cristão).
Nem Satanás nem os demônios
podem viver permanentemente em um cristão ou ter vitória final sobre ele,
embora sejam capazes de dominar ou de controlar temporariamente a vida de um
cristão.
Um cristão pode ser entregue
a Satanás para a destruição da carne, mas o espírito será salvo “no Dia do
Senhor Jesus” (1 Co 5:5). Independentemente do que Satanás ou os demônios
possam fazer contra um cristão e de sua base de operação ser interna ou
externa, o controle que exerce não pode ser permanente e eterno. João afirmou
claramente que o Maligno não “toca” aquele que é nascido de Deus (1 Jo 5:18).
A palavra “toca” usada aqui
envolve o propósito de agredir; Satanás não pode atingir o cristão. Além dessa
passagem, João 20:17 (ARA) inclui uma ideia similar (deter), pois não se refere
a um toque superficial, mas a segurar, agarrar ou prender alguém.
O diabo não pode “tocar” o
cristão com o propósito de machucá-lo, pois o cristão pertence a Deus de
maneira eterna e irrevogável. Satanás (ou os demônios) são capazes de afligi-lo
e até mesmo de controlá-lo durante algum tempo, mas nunca de maneira permanente
ou eterna.
Segundo, a indefinição do
Novo Testamento sobre a base de operação dos demônios em relação ao cristão
está ligada à ausência de uma ordem direta (após o Pentecostes) de exorcizar
demônios. Isso pode nos dar uma indicação de como combater o inimigo. Não
deveríamos encarar o exorcismo como uma maneira de atacar os demônios, mas sim
usar as armas normais de nossa guerra contra Satanás e seus demônios.
O cristão deveria tratar a
perturbação demoníaca do mesmo modo como procura resistir à tentação ou lutar
contra as tendências da carne. Deveria examinar a si mesmo para ver se existe
alguma área de rebelião contra a lei ou a contra a vontade de Deus, confessar
todos os pecados conhecidos, confiar no poder do Espírito que habita em nós e
que é maior do que Satanás (1 Jo 4:4) e tomar a armadura de Deus (Ef 6:13-18).
O exorcismo pode ser
necessário em algumas situações extremas, porém o exorcista não pode impedir
que os demônios ataquem novamente a mesma pessoa. Afinal, nenhum ser humano
pode garantir que amarrou demônios e que os lançou no abismo. Paulo nos lembra
de que durante toda nossa vida lutamos contra os poderes das trevas. Portanto,
o cristão deve estar alerta (1 Pe 5:8), vestir a armadura de Deus e usar tudo
aquilo que contribui para uma espiritualidade sadia (Rm 12:2; 2 Co 10:5; Fp
4:8).
Um alerta: nem todos os problemas, doenças do corpo,
distúrbios emocionais e pecados são causados por demônios. Alguns têm sua
origem em causas naturais, outros surgem da carne. Nessas situações, de nada
adiantaria expulsar demônios, mas combater o bom combate da fé será de grande
utilidade em todos esses casos.