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O Inferno à Luz da Bíblia Sagrada

É relevante o fato de que das doze vezes em que a palavra inferno é usada no Novo Testamento, onze delas vêm da boca de nosso Senhor. Na verdade, ele falou mais sobre o inferno que sobre o céu. O Novo Testamento usa três diferentes palavras gregas para inferno.

I. PALAVRAS BÍBLICAS SE REFERIR AO INFERNO
1. TARTAROO – 2 Pedro 2.4
O tartaroo, termo grego, aparece em 2 Pedro 2.4 para a moradia de anjos maus que pecaram durante o tempo de Noé: “Pois Deus não poupou os anjos que pecaram, mas os lançou no inferno (tartaroo), prendendo-os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo.”

2. GEENNA – Mateus 10.28
O segundo e mais frequente uso da palavra para inferno no Novo Testamento é geena (Mt 10.28), palavra para inferno já usada pelos judeus antes do tempo de Cristo. É relevante o fato de que das doze vezes em que a palavra geena é usada no Novo Testamento, onze delas vêm da boca de nosso Senhor. Na verdade, ele falou mais sobre o inferno que sobre o céu.

A palavra deriva-se do termo hebraico “vale de Hinom” encontrada no Antigo Testamento (Josué 15:8; 2 Reis 23:10; Neemias 11:30). Naquele vale, localizado fora de Jerusalém, os judeus ofereciam sacrifícios humanos para deidades pagãs. Lá também era jogado o lixo da cidade, onde os vermes procriavam. Isso explica por que Cristo se referiu ao inferno como o lugar onde “o seu verme não morre, e o fogo não se apaga” (Marcos 9:44,46,48). Essa imagem de um depósito de lixo impuro onde fogo e vermes nunca morrem se tornou, para a mente judaica, uma descrição apropriada do derradeiro destino de todos os idólatras. Os judeus ensinavam, e Cristo confirmou, que o ímpio sofreria lá para sempre. Corpo e alma estariam em tormento eterno.

3. HADES – Lucas 16.23 – ARC
O hades é um prelúdio do lugar final de punição eterna. Há quem chame o hades de inferno provisório, pois no futuro, ele será lançado no inferno definitivo – o lago de fogo (Ap 20.14).



4. Exemplo de ida ao Hades (Lucas 16.19-31)
Um homem rico que habitualmente se vestia com púrpura e fino linho e vivia todos os dias em esplendor morreu, e sua alma foi levada para o Hades. Um mendigo chamado Lázaro que ficava sentado ao lado do portão do rico mendigando também morreu e foi carregado para o seio de Abraão (a região bem-aventurada do Hades). Agora, começa a descrição do mundo vindouro:

No Hades [tradução grega do Sheol do Antigo Testamento], onde estava sendo atormentado, ele olhou para cima e viu Abraão de longe, com Lázaro ao seu lado. Então, chamou-o: “Pai Abraão, tem misericórdia de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque a minha língua, porque estou sofrendo muito neste fogo.” Mas Abraão respondeu: “Filho, lembre-se de que durante a sua vida você recebeu coisas boas, enquanto Lázaro recebeu coisas más. Agora, porém, ele está sendo consolado aqui e você está em sofrimento. E, além disso, entre vocês e nós há um grande abismo, de forma que os que desejam passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para o nosso, não conseguem” (Lucas 16:23-26).

Seria um erro pensar que esse homem atormentado terminou no Hades porque era rico! Em outras passagens do Novo Testamento, somos claramente ensinados que nossas riquezas, ou a falta delas, não ditam nosso destino eterno. Lembre-se, Cristo contou essa história para sacudir os fariseus gananciosos a fim de que percebessem que suas riquezas não os poderiam salvar; os pobres poderiam ficar melhor na vida futura.

5. Cristo descreveu o destino radicalmente de um cristão e um descrente
Para nossos propósitos, focamos o destino do homem rico, tentando entender sua situação desagradável enquanto sua família ainda desfrutava os confortos humanos e terrenos. Embora possamos ter bastante certeza de que sua família não soubesse de sua situação, ele estava em aguda agonia.

a) homem no Hades teve plena consciência logo após a morte
Memória, fala, sofrimento e êxtase — tudo isso fazia parte de sua experiência. O homem rico disse: “Pai Abraão, tem misericórdia de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque a minha língua, porque estou sofrendo muito neste fogo” (Lucas 16:24). No Hades, um alcoólatra sedento por uma gota de bebida, mas sem ninguém para lhe dar. O viciado em drogas ansiará por uma dose de heroína, mas não a receberá. O homem imoral queimará de desejo sexual, mas nunca será satisfeito.
A lascívia queimando perpetuamente nunca se abranda, e a consciência torturada dói, mas nunca é serenada. Haverá cada vez mais desejo com diminuição da satisfação. No livro de Provérbios, lemos sobre os desejos insaciáveis do mundo de baixo e da lascívia do homem: “O Sheol e a destruição são insaciáveis, como insaciáveis são os olhos do homem” (Provérbios 27:20).

b) O destino eterno desse homem estava irrevogavelmente determinado
“E além disso, entre vocês e nós há um grande abismo, de forma que os que desejam passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para o nosso, não conseguem” (Lucas 16:26). Enquanto os parentes na Terra podem sair da funerária, ir jantar fora e planejar umas férias, o amigo deles está confinado no Hades sem nenhuma possibilidade de escapar.
Conforme M. R. DeHaan coloca: “Uma vez que atravessamos a porta da morte não podemos pegar nossa mala e mudar de lugar porque não gostamos das acomodações.” Assim, no Hades, há monotonia; aqui está o isolamento de tédio e trivialidade. Não é possível se dedicar a nenhum desafio; estabelecer nenhum objetivo; experimentar nenhum prazer.

c) Autoconsciência do Rico no Hades
Esse homem conhecia-se bastante bem para saber que o que estava vivenciando era justo e legítimo. No Hades, toda sua vida estava presente para ele; sua transferência para o mundo de baixo não diminuíra sua autoconsciência, só a exaltara. Ele implora a Abraão para enviar Lázaro à casa de seu pai para adverti-los, “a fim de que eles não venham também para este lugar de tormento” (Lucas 16:28).
Temos motivo para achar que esse homem acreditava que o que estava lhe acontecendo era justo por duas razões. Primeira, ele não diz nada acerca de quão injusto era ele estar ali. Ele reclama do sofrimento, mas não da injustiça. Segundo e mais importante, ele sabia exatamente o que seus irmãos tinham de fazer para não ter o mesmo destino que ele! Se eles se arrependessem, seriam poupados de se juntar a ele no tormento.

É incrível como, de repente, o homem fica interessado em missões! Ele pede a Abraão para advertir seus cinco irmãos para que possam não ir para o mesmo lugar de tormento. E quando Abraão diz não porque eles tinham Moisés e os Profetas, o homem replica: “Não, pai Abraão, [...] mas se alguém dentre os mortos fosse até eles, eles se arrependeriam” (Lucas 16:30).

O pecado não perdoado, o homem rico sabia, levava de modo bastante lógico para um lugar de agonia. E se fosse para seus irmãos escaparem da agonia dele, eles teriam de fazer alguma coisa a respeito da situação deles enquanto estavam vivos na Terra. Com percepção aumentada e melhor entendimento, ele conseguiu perceber que seu relacionamento com o Altíssimo tinha de ser sua mais alta prioridade.

Poderíamos achar que esse homem teria preferido ter os irmãos com ele no Hades por causa da companhia. Mas ele estava mais que disposto a nunca vê-los de novo se apenas soubesse que eles estariam do outro lado do abismo, no qual Lázaro e Abraão se encontravam pela primeira vez.
A resposta de Abraão é instrutiva. “Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (Lucas 16:31).
Como isso é verdade! Quando Cristo contou essa história, ele ainda não morrera nem fora ressuscitado. Contudo, ele ensinou que sua ressurreição era o único sinal que daria para o mundo. No entanto, hoje, embora a evidência de sua ressurreição seja esmagadora, muitos homens e mulheres ainda não acreditam nela. Como diz o ditado: “O homem convencido contra sua vontade continua com a mesma opinião.”

d) Hades não é o Inferno
Quarto, não esqueçamos que o homem rico de Lucas 16 ainda não estava no inferno, mas no Hades. Como a versão King James, com frequência, traz Sheol e Hades por inferno, isso confunde desnecessariamente dois tipos distintos de regiões. A Bíblia parece deixar claro que, hoje, ninguém ainda está no inferno.
Algum dia, o Hades será lançado no inferno, mas isso ainda não aconteceu (Apocalipse 20:14).

Pedro acabara de explicar o julgamento dos anjos desobedientes e acrescenta: “Vemos, portanto, que o Senhor sabe livrar os piedosos da provação e manter em castigo os ímpios para o dia do juízo” (2 Pedro 2:9). O tempo do verbo atesta que a punição está em andamento, embora o julgamento final ainda esteja no futuro.

6. O destino do crente Lázaro

E quanto ao crente, Lázaro? Ele estava na região do Sheol, ou Hades, na passagem mencionada como “junto de Abraão”. Mas depois da ascensão de Cristo, diz-se que os cristãos entram diretamente no céu.
Em outras palavras, as duas regiões do Hades não existem mais lado a lado, há motivo para acreditar que, hoje, junto de Abraão é no céu.
Assim, se morrer e se seu espírito for para o céu, acredito que você não conseguirá ver os que estão sofrendo no Hades, como Lázaro viu. Talvez na ascensão, Cristo tenha levado os que estavam junto de Abraão (localizado perto daqueles que sofriam no Hades) para o céu com ele. Assim, junto de Abraão, paraíso e céu, tudo se refere à mesma moradia, a saber, o lugar de êxtase e bem-aventurança na presença de Deus. Como disse Paulo: “Temos, pois, confiança e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor” (2 Coríntios 5:8).

O Hades, que saibamos, agora tem apenas uma região e é nela que os descrentes entram. Ainda existe uma moradia para os espíritos que partiram, um estado intermediá-rio temporário no qual quem não recebeu o perdão de Deus deve aguardar até o momento em que serão chamados. Quando eles ouvirem seu nome ser chamado, a notícia que os aguarda não será encorajadora. O Hades não é purgatório. Aprendemos que os indivíduos que estão no Hades não têm possibilidade de entrar no céu.

II. CARACTERÍSTICAS DO INFERNO
1. Lugar de tormento
Em geral, quando pensamos no inferno, pensamos em fogo, uma vez que Cristo falou do “fogo do inferno”. No livro de Apocalipse, lemos sobre o “lago de fogo que arde com enxofre”. Não há motivo para os tormentos do inferno não incluírem fogo físico, uma vez que o corpo dos que ali estarão terá sido recriado e tornado indestrutível.
Tenha certeza disso: nem o demônio nem seus anjos atormentarão as pessoas no inferno. Satanás e seus demônios estarão entre os atormentados; eles não serão os atormentadores (Apocalipse 20.10). As Escrituras ensinam que aqueles que estão no inferno serão atormentados na presença de Cristo e dos santos anjos (Apocalipse 14:10).

2. Lugar de eternidade
Quanto tempo dura a eternidade?
Visualize uma ave vindo à Terra a cada milhão de anos para levar um grão de areia para um planeta distante. Nessa proporção levaria milhares de bilhões de anos para que a ave carregasse um único Lugar de eternidade punhado de areia. Agora, expanda essa ilustração e pense quanto tempo a ave levaria para mudar a praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, e, depois, outras milhares de praias em torno do mundo. Depois disso, a ave começaria a fazer o mesmo com as montanhas e a crosta terrestre. Na época em que a ave tivesse transportado toda a areia para o planeta distante, a eternidade não teria começado oficialmente. Falando estritamente, ninguém pode começar uma série infinita, pois um início pressupõe um fim. Em outras palavras, podemos dizer que depois de a ave fazer seu trabalho, aqueles na eternidade não estarão um passo mais perto de ter alívio para seu sofrimento. Não existe essa coisa de metade da eternidade.

O pensamento mais moderado que pode sequer atravessar nossa mente é o fato de que o homem rico no Hades, mencionado anteriormente, ainda não recebeu sequer uma gota da água pela qual anseia tão desesperadamente. Hoje, enquanto você lê este artigo, ele ainda está lá à espera do julgamento final do lago de fogo. A eternidade dura, e dura para sempre.

3. Lugar de fácil acesso, mas não fácil de sair
Entrar no inferno é bastante simples. Tudo que se tem de fazer é negligenciar Cristo, o único que pode nos salvar.

Jonathan Edwards, já mencionado, deu mais atenção à doutrina do inferno que qualquer outro teólogo. Seu sermão “Sinners in the Hands of na Angry God” [“Pecadores nas mãos de um Deus enraivecido”] manteve a audiência encantada, despojada de quaisquer objeções ou desculpas que pudessem ter contra a doutrina do inferno. Ele apresentou o ponto de que Deus tem mais raiva de algumas pessoas que vivem hoje do que de algumas que estão hoje no Hades (ele chamava-o de inferno) e já morreram. Assim, só a misericórdia de Deus as impediria de mergulhar no abismo.

Adaptado de: Erwin W. Lutzer
Referências:
- Livro: Um minuto depois da morte. Ed. Thomas Nelson Brasil
- Bíblia Strong – App
- ARC – Almeida Revista Corrigida