
Leitura
bíblica básica: 2 Sm 15.1-18
I. O HOMEM ABSALÃO
1. Descrição
Pode-se perguntar por que o
nome de Absalão consta nas narrativas do texto de Samuel, sendo que não existe
qualquer destaque espiritual em sua vida digno de louvor, mas, sim, que se
manifestou como um filho rebelde, contumaz, sedento pelo poder. Podemos dizer
que isso se dá por alguns motivos. Primeiramente, sabemos que Amnom era o
primogênito de Davi, depois vinha Absalão como o terceiro filho e, em quarto,
Adonias, mas, para a preservação da dinastia da casa de Davi, por sua
soberania, Deus escolhe Salomão para sucedê-lo.
O destaque que se dá a
Absalão resulta da consequência do pecado de Davi e os momentos que se aludem
sobre ele são sempre negativos. Primeiramente, o assassinato de seu
irmão Amnom (2 Sm 13.1-38); em segundo lugar, a rebelião que ele faz
contra seu pai (2 Sm 13.39; 19.8). É triste quando o nome de uma pessoa aparece
em alguma cena apenas com pontos negativos, como foi o caso de Absalão. Por
isso, faz-se necessário sempre o servo de Deus procurar proceder exemplarmente
em todos os aspectos para glorificação do nome do Senhor.
Absalão, do hebraico, quer
dizer o pai é da paz. Filho de Davi com Maaca (2 Sm 3.3), nasceu possivelmente
em 1000 a.C. e a única menção que se faz dele é que tinha uma beleza singular,
sem defeito. O destaque estava em sua cabeleira,
que, sendo cortada, a cada ano chegava a pesar dois quilos. Quando faz menção à
beleza de Absalão, o autor busca delinear certo perigo. No próprio texto é dito
que a beleza de Bate-Seba chamou a atenção de Davi, a beleza de Tamar atraiu
seu irmão e, sendo assim, o destaque da beleza de Absalão é vista como um
perigo.
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Não há qualquer pecado em ser
belo. O texto de Gênesis diz que José era formoso, tanto de porte como de
aparência. No hebraico, a palavra formoso é yapheh e fala de alguém
elegante, lindo, bonito (Gn 39.6). Por causa disso, a mulher de Potifar o
assediava constantemente, mas, como ele tinha compromisso e comunhão com Deus,
não cedeu. Beleza, inteligência, eloquência sem o temor de Deus pode se tornar
certo perigo, especialmente para aqueles que são sedentos pelo poder.
2. Em que Consistia a Causa
da Revolta de Absalão
Sem rodeio, podemos ratificar
que a revolta de Absalão consistia em sua sede e ambição pelo poder. Isso faz
com que ele trace planos maléficos para realizar seus intentos e concretizar
seus desejos. Quem tinha primeiramente direito ao trono estava morto, Amnom;
todavia, fala-se de Quileabe, que Davi teve com Abigail, mas crê-se que tenha
falecido cedo, então se tem Absalão, que era de nascimento nobre, isso porque
sua mãe era filha de um rei (2 Sm 3.3).
Juntando a sede de poder com
a beleza e o nascimento nobre, sendo que Davi já estava de idade avançada,
Absalão não perde tempo. Acredita-se que ele tenha tido conhecimento da
profecia de Natã, pois era algo veiculado naqueles dias e, quando ela foi dita,
o prometido não havia nascido (2 Sm 12.7). Por essa razão, age com esperteza,
conquistando o povo, tirando a lealdade dos servos de Davi, seu pai, para si
mesmo, afirmando ter uma campanha melhor, que seu reinado seria mais justo (2
Sm 15.6; 15.2-4).
Existem muitos Absalões no
meio eclesiástico, os quais podem facilmente furtar o coração daqueles que são
leais ao verdadeiro Rei. Quantos não estão doentes espiritualmente porque foram
iludidos, ludibriados por tais Absalões, os quais são sedentos pelo poder,
grandeza! Não querem servir nem obedecer, antes aspiram a uma posição na igreja
apenas para serem tratados como reis.
A igreja deve tomar todo o cuidado
com esses Absalões, cujos planos, a princípio, parecem vantajosos, mas, no
final, comprometem sua vida espiritual, afastando-os do verdadeiro e bom Rei,
Jesus Cristo. Todo líder sincero precisa ter cuidado com os Absalões que se
espalham por aí. Devem agir de imediato e duramente contra eles, não deixando
que seu veneno se espalhe.
II. A REVOLTA DE ABSALÃO
1. A Fraqueza do Reinado de
Davi
F. B. Meyer afirma que,
devido a seus pecados cometidos, de tudo que aconteceu na vida de Davi, havia
muita vulnerabilidade, acumularam-se diversos processos. Os que buscavam o
cumprimento de alguma causa não obtinham resposta, e isso gerou muito
descontentamento. Tendo conhecimento do pecado cometido por Davi, da falta de
procedimento sincero, muitos perderam a fé no homem segundo o coração de Deus. Supõem
alguns estudiosos que nesse período, segundo os Salmos 41 a 45, Davi tivesse
enfrentado algum tipo de doença. Seja o que for, o certo é que seu ambicioso
filho aproveitou-se de todos esses pontos fracos para conquistar aquilo que
mais seu coração queria: poder.
Diante de todas essas
circunstâncias, Absalão dá início à sua revolta, lança uma campanha e vai
ganhando força. O pai não percebe o tamanho da astúcia do filho e, já após
quatro anos, quando voltou de Gesur, pois esteve ali com o seu avô, o rei
Talmai, por três anos (2 Sm 13.30-38), pode-se crer que não foi em vão, mas,
sim, planejando voltar, não por causa de um amor sincero e verdadeiro para com
o pai, mas porque queria tomar o poder.
Absalão se programa
organizadamente para colocar em prática o seu golpe e o faz com astúcia,
furtando o coração do povo. Tudo isso vai acontecer porque Davi não era mais
aquele homem que iniciou sua vida com humildade, sinceridade, comunhão com
Deus, que o fazia ter sensibilidade espiritual. Mas, como foi deixando brechas
em sua vida, tudo por causa de um desejo sexual desenfreado, chegou a
sentenciar à morte um dos seus soldados de destaque. Os fracassos de Davi
fizeram com que alguns de seus liderados não tivessem mais confiança nele,
outros olhassem com suspeita para ele, daí a lealdade para com o grande rei
ficou comprometida.
É sempre perigoso quando um
obreiro vai deixando brechas em sua vida ministerial, o que pode ser elemento
útil para os Absalões que estão sempre procurando oportunidade para desfazer de
sua liderança, chegar ao poder.
Nesse sentido, o mais
importante é o líder fechar todas essas brechas, proceder fielmente em tudo,
como fizeram Moisés (Nm 12.7), Samuel (1 Sm 12.3,4), Paulo (At 20.33,34). Está
escrito em 1 Timóteo 3.1 que o bispo deve ser irrepreensível. Quer dizer que
ele não deve deixar ocasião para que inimigos se aproveitem disso.
2. O Absalão Político
Os versículos 1-6 de 2 Samuel
capítulo 15 mostram o quanto Absalão era politiqueiro, no sentido de usar
processos não corretos para chegar ao cargo do pai. Sempre trabalhou com meios
ilegais e, para chegar à presença do pai, usou de manipulação. Agora, querendo
chamar a atenção do povo para si, em detrimento da autoridade do pai, lançou-se
em uma grande campanha de conquista.
Absalão é visto como um ator
que sabia fazer muito bem o seu show. De modo sutil, astuto, consegue chamar a
atenção do povo. É claro, ele trabalha publicamente sua imagem e, para isso,
começa com algo inovador, exibindo sua realeza com carrões e corredores diante
de si. Com os batedores na frente, Absalão vinha lentamente no seu carro
chamando a atenção de todos para o poder que exibia como príncipe. Esse homem
vai proceder astutamente trabalhando nos pontos em que o reinado de Davi estava
falhando.
Vejamos:
• Fazendo exibição de sua
imagem. Ele era daquele tipo que apenas queria impressionar o
povo, mostrar-se grandioso.
• Levantando cedo.
Acredita-se que a corte de Davi não atendia bem cedo as pessoas, o que gerava
uma falha. Então Absalão se coloca como uma pessoa diligente. Os que trilham o
caminho de Absalão sempre se apresentam como eficientes em tudo; querem se
mostrar mais atuantes do que o presidente da igreja.
• Buscando um lugar
estratégico para ficar. Ele queria que todos o vissem, por isso
postava-se à porta da cidade. Quem tem o espírito de Absalão quer ser sempre
bem visto, faz seu trabalho para ser visto, aplaudido, não se esquecendo de que
por trás de tudo isso há um interesse, o de chegar ao poder. Esse procedimento
fere o que Paulo ensinou: que não se deve servir à vista para agradar aos
homens (Ef 6.6).
• Querendo deixar uma boa
impressão. Isso ele fazia demonstrando total atenção aos
forasteiros que chegavam à cidade, especialmente aqueles que vinham com algum
problema ou queixa para resolver.
• Apontando fraquezas no
reinado do pai. Ele dizia “teus planos e negócios são bons,
mas não há da parte do rei ninguém que te ouça”. Podemos crer que tal
informação não procedia, pois vemos em 2 Samuel 14.4-7 que o rei atendeu
facilmente a mulher de Tecoa.
• Apresentando-se como uma
pessoa capaz. Isso pode ser provado quando ele diz: “Ah,
quem me dera ser juiz na terra”. Com tal expressão afirmava ao povo que tinha
muitas habilidades para julgar.
• Portando-se como um rei.
Absalão recebe os que entravam na cidade apertando a mão de cada um e, aos que
traziam seus pedidos, com beijo. Na mente e no coração desse rebelde havia um
sentimento de que ele já era rei, o que lhe faltava era o trono.
Muito tem se questionado por
que Davi não reagiu diante dessa ação do seu filho, pois era declarado o que
ele estava fazendo. Alguns supõem que o rei não agiu porque, diante de todo o
seu trabalho, seu histórico de vida, julgou por si mesmo que a lealdade dos
seus súditos seria algo firme, pois tinha conquistado o coração de cada um; que
não se deixariam levar pelo comportamento disfarçado do seu filho rebelde. Um
líder nunca pode descansar e achar que tudo está bem; antes, deve procurar orar
e vigiar constantemente para não dar brecha ao inimigo, o senso de confiança, segurança
demasiada é sempre perigosos.
Davi havia perdoado Absalão
de modo sincero e verdadeiro, mas ele não. Sua ação presunçosa e ardilosa era
resquício do ódio contra o pai. Davi não atentou com seriedade para essa
questão, pois seu filho estava furtando ou roubando o coração do povo, que não
sabia o que estava por trás de suas ações.
Verdadeiros servos de Deus
não procuram o poder, a grandeza; antes, quando procedem com humildade, servem
com sinceridade, o Senhor os coloca no devido lugar. Foi isso que aconteceu com
José, que jamais fez campanha para ser o governador do Egito, nem procurou se
apresentar como o mais sábio, inteligente. Quando interrogado por Faraó sobre
sua capacidade de interpretar, respondeu que nada disso vinha dele, mas de Deus
(Gn 41.16).
Outro exemplo bem clássico na
Bíblia é o de Mardoqueu. Ele fez uma boa ação salvando a vida do rei e, no
tempo certo, foi honrado por Assuero, o rei, pois soube esperar e confiar no
Senhor (Et 6.6). Verdadeiros homens de Deus jamais procedem como Absalão,
traindo a confiança daqueles que primeiramente o ajudaram, falando aos outros
aquilo que fez para ganhar destaque. Quem serve o rei deve proceder com amor,
sinceridade e humildade, pois no momento exato quem o honrará é o dono da obra.
III. A MORTE DE ABSALÃO
1. Coração de Pai
Apesar de muitos falarem da
falha de Davi como um líder no lar, não podemos esquecer que ele tinha um
coração de pai. Isso se prova por duas ações: a primeira, quando
perdoa Absalão e aceita sua volta, com intermédio de Joabe; é claro, o fato de
Davi passar mais de dois anos sem admitir que Absalão entrasse em sua presença
era uma forma de punição, mas logo se nota que a reconciliação de fato acontece
(2 Sm 14.21-33).
Outro exemplo bem claro de
Davi como pai é quando ele ora, chora e jejua pelo filho que
teve com Bate-Seba, quando a criança estava doente.
Lendo 2 Samuel 18.5, no
momento em que é formada a comitiva dos soldados para perseguir Absalão e seu
grupo, entra em cena novamente Davi com seu coração de pai e pede aos
comandantes Joabe, Itai e Abisai que tratem brandamente, por amor a ele, seu
filho Absalão. É possível que esse pedido de Davi tenha surgido porque, para
ele, Absalão era apenas um menino.
O ato de sua rebelião seria
tão somente uma balbúrdia, uma traquinagem de jovem, que logo poderia ser
perdoado, mas, para os soldados do rei, a situação era grave.
Na verdade, o que expressa o
sentimento de Davi como pai é que, diante da notícia que o cuxita trouxe da
morte de Absalão, suas palavras levaram Davi a lamentar, mergulhar em um mar de
tristeza, a chorar copiosamente, dizendo: “Meu filho Absalão [...] Quem me dera
que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!” (2 Sm 18.33). Há
opiniões de biblistas no sentido de que esse lamento do rei se devia a um
sentimento de fracasso seu, por não ter sido um pai ideal para Absalão (2 Sm
18.19-33).
O certo é entender que, nas
Sagradas Escrituras, o pai, como figura nuclear, é também descrito como alguém
que tem amor pelos filhos; dois episódios falam sobre isso. O primeiro é
Abraão; o próprio Deus é quem diz, “Toma agora o teu filho, o teu único filho,
Isaque, a quem amas” (Gn 22.2). E o clássico, que é usado nas pregações
evangelísticas, está em Lucas, na parábola do filho pródigo, em que o pai
espera sempre a volta do filho para casa e com os braços abertos (Lc 15.20).
Esses e outros textos evidenciam que pai de verdade tem amor e carinho para com
seus filhos, desejando sempre o seu bem.
2. O Preço da Rebelião de
Absalão
O relato da morte de Absalão
como preço por sua rebeldia acontece em 2 Samuel 18.1-33. É triste para um pai
ter que formar uma organização militar para lutar contra o próprio filho. Creio
que essa deve ter sido uma das mais duras batalhas travadas por Davi. O texto
começa dizendo que ele organizou a tropa, dividindo os homens que tinha em três
companhias, estando cada um dos comandantes à frente. Uma tropa ficava no campo
de batalha, a outra tinha a missão de proteger o rei. Davi queria estar à
frente, ou seja, na companhia de Joabe e Abisai, mas eles acharam que não era
bom, pois o rei valia mais do que uma brigada de mil homens, podendo, caso uma
parte fosse derrotada, levantar outro grupo para entrar na peleja.
Davi vê quando o exército sai
para a batalha e então faz sua solicitação: que tratem Absalão com
brandura. A batalha prossegue, e logo se tem uma matança
de aproximadamente 20 mil homens, isso de ambos os lados, mas alguns
perderam a vida por causa dos desfiladeiros das montanhas, onde havia
muitos bosques.
Absalão ficou frente a frente
com os guerreiros de seu pai e procurou fugir montado em sua mula, que era
sinal de realeza. Correndo o animal por entre os galhos, prendeu-se a cabeça e
o cabelo do rebelde Absalão nos galhos e ele ficou pendurado. Um soldado conta
a Joabe a situação do jovem, que de imediato vai até lá e o fere com três
dardos no coração; depois os escudeiros usam contra ele a espada. Joabe não
atentou para o pedido do rei, isso porque ele era um homem de temperamento
forte e que buscava criar suas próprias leis.
O posicionamento rebelde de
Absalão contra o pai era totalmente errado. Ele não estava cumprindo o que a
lei ensinava, que os filhos deveriam obedecer aos pais e honrá-los. Assim, sua
sina há de ser terrível por haver buscado trilhar o caminho da desobediência, o
que, segundo a lei, merecia a morte, pois perdera o direito de viver (Dt
21.18,21,23; Gl 3.13). Os filhos jamais devem seguir o exemplo de Absalão, pois
a maldição pode vir para sua vida; o certo é sempre andar em obediência aos
pais em tudo, pois a bênção do Senhor os acompanhará.
GOMES, Osiel. O Governo
Divino em Mãos Humanas: Liderança do Povo de Deus em 1° e 2° Samuel. 1ª edição
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