Jesus assevera, em Mateus 16.18: "Edificarei a minha igreja". Esta é a primeira entre mais de cem referências no Novo Testamento que empregam a palavra grega primária para "igreja": ekklêsia, composta com a preposição ek ("fora de") e o verbo kaleõ ("chamar"). Logo, ekklêsia denotava originalmente um grupo de cidadãos chamados e reunidos, visando um propósito específico.
O termo é conhecido desde o século V a.C, nos escritos de Heródoto, Xenofontesy-Platão e Eurípedes. Este conceito de ekklêsia prevalecia especialmente na capital, Atenas, onde os líderes políticos eram convocados como assembleia constituinte até quarenta vezes por ano.
1. O USO SECULAR DO TERMO
O uso secular do termo
também aparece no Novo Testamento. Em Atos 19.32,41, por exemplo, ekklêsia refere-se
à turba enfurecida de cidadãos que se reuniu em Éfeso para protestar contra os
efeitos do ministério de Paulo.
Na maioria das vezes,
porém, o termo tem uma aplicação mais sagrada e refere-se àqueles que Deus tem
chamado para fora do pecado e para dentro da comunhão do seu Filho, Jesus
Cristo, e que se tornaram "concidadãos do santos e da família de
Deus" (Ef 2.19). Ekklêsia é sempre empregada às pessoas e também
identifica as reuniões destas para adorar e servir ao Senhor.
2. IGREJA NA TRADUÇÃO GREGA DO ANTIGO TESTAMENTO
A Septuaginta, tradução
grega do Antigo Testamento, também emprega ekklêsia quase cem vezes,
usualmente como tradução do termo hebraico qahal ("assembleia",
"convocação", "congregação"). No Antigo Testamento, assim
como no Novo, o termo às vezes se refere a uma assembleia religiosa (por
exemplo, Nm 16.3; Dt 9.10) e em outras ocasiões a uma reunião visando
propósitos seculares, até mesmo malignos (Gn 49.6; Jz 20.2; 1 Rs 12.3 etc).
Uma palavra hebraica com
significado semelhante a qahal é 'edah ("congregação",
"assembleia", "agrupamento", "reunião)'). E de
relevância notar que ekklêsia é frequentemente usada na Septuaginta para
traduzir qahal, mas nunca 'edah. Pelo contrário, esta última
palavra é mais frequentemente traduzida por sunagõgê ("sinagoga").
Por exemplo: a frase "comunidade de Israel" (Ex 12.3) podia ser
traduzida por "sinagoga de Israel" se seguíssemos a versão da Septuaginta
(ver também Nm 14.1; 20.1).
A
palavra grega sunagõgê, assim como seu equivalente hebraico, 'edah, tem
o significado essencial de pessoas reunidas.
Hoje,
quando escutamos a palavra "sinagoga", usualmente temos o retrato
mental de uma assembleia de
judeus reunidos para orar e escutar a leitura e exposição do Antigo Testamento.
Significado semelhante também se acha no Novo Testamento (Lc 12.11; At 13.42 etc). E,
embora os cristãos primitivos costumassem evitar a palavra para descrever a
eles mesmos, Tiago não a evita ao (Tg 2.2) referir-se aos crentes que se reuniam para adorar, talvez por serem os seus leitores
convertidos judaicos, na sua maioria.
Como consequência, quer nos refiramos aos
termos hebraicos comuns qahal e 'edah, quer às palavras gregas sunagõgê
e ekklêsia, o significado essencial continua sendo o mesmo: a
"Igreja" consiste naqueles que foram chamados para fora do mundo, do
pecado e da vida alienada de Deus, os quais, mediante a obra de Cristo na sua
redenção/foram reunidos como uma comunidade de fé que compartilha das bênçãos e
responsabilidades de servir ao Senhor.
A
palavra grega kuriakos ("pertencente ao Senhor"), que aparece apenas duas vezes no Novo Testamento (1 Co 11.20; Ap 1.10), deu origem à palavra Church - "igreja", em inglês (também Kirche, em
alemão, e kirk, na Escócia). No
cristianismo primitivo, tinha o significado de lugar onde se reunia a ekklêsia,
a Igreja. O local da assembleia,
independente do seu uso ou ambiente, era considerado "santo" ou
pertencente ao Senhor, porque o povo de Deus se reunia ali para adorá-lo e
servi-lo.
3. O USO DO TERMO IGREJA HOJE
Hoje,
"igreja" comporta vários significados. Refere-se frequentemente ao prédio onde os crentes se reúnem (por exemplo:
"Estamos indo à igreja"). Pode indicar a nossa comunhão local ou
denominação ("Minha igreja ensina o batismo por
imersão") ou um grupo religioso regional ou nacional ("a igreja da
Inglaterra").
A
palavra é empregada frequentemente com
referência a todos os crentes nascidos de novo, independentemente de suas
diferenças geográficas e culturais ("a Igreja do Senhor Jesus
Cristo"). Mas seja como for, o significado bíblico de "igreja" refere-se primariamente não às instituições e culturas, mas
sim às pessoas reconciliadas com Deus mediante a obra salvífica de Cristo e que
agora pertencem a Ele.
4. A IGREJA (EKKLESIA) DE DEUS É UM POVO TIRADO DO MUNDO
O mais
importante na estrutura da Igreja e que lhe dá a razão de ser e de existir, é
que ela seja realmente constituída de um povo que, de acordo com as palavras de
Jesus, tenha sido tirado do mundo (Jo 15.19). Essa realidade é evidenciada, de
modo claro, pela própria palavra que o Novo Testamento usa, em sua língua
original (grego), para "igreja" — ekklêsia.
Essa
palavra é composta de duas outras: ek e klesis. Ek significa "para
fora", eklesis, "chamado". Ekklêsia é usada no Novo Testamento
115 vezes e aparece em três significações distintas, porém sempre tratando de
algo que é chamado para fora.
• É
usada três vezes para expressar uma assembleia de comunidade grega, tanto legal
(cf. At 19.39) como ilegal (At 19.32,40). Na acepção legal, os componentes da
referida câmara eram chamados do convívio da família e da sociedade para
constituírem aquela assembleia.
• É
usada duas vezes para designar o Israel de Deus no Antigo Testamento (cf. At
7.38; Hb 2.12), exprimindo, assim, como Deus chamou a Israel dentre os povos
para ser um povo seu (Dt 7.6-8).
• É
usada 110 vezes para designar a Igreja do Deus vivo e revela grandes e
importantes verdades sobre essa organização, como um povo "chamado para
fora": Klesis, com relação à Igreja, nos faz pensar na chamada de Jesus
aos pecadores perdidos ( Mt 9.13; Lc 19.10).
• Deus chama por sua soberana vocação (cf. Fp 3.14), para comunhão com o seu Filho Jesus Cristo (cf. 1 Co 1.9). Ek evidencia que por essa chamada fomos tirados das trevas (cf. Cl 1.13), do mundo ( Jo 15.19) e dessa geração perversa (cf. At 2.40). A finalidade dessa "chamada para fora" é que sejamos o povo de Deus (cf. 2 Co 6.14-18), um povo seu, especial, zeloso de boas obras (cf. Tt 2.14), uma geração eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, um povo adquirido (cf. 1 Pe 2.9).
• Convém
salientar que é somente quando a igreja realmente é constituída de "um
povo tirado para fora" é que tem o direito de ser chamada
"igreja", no senti¬do neotestamentário.
5. JESUS É O CENTRO ABSOLUTO DA IGREJA
Uma outra
coisa importantíssima relacionada à estrutura da igreja é que Jesus deve ser o
seu centro absoluto. Essa realidade temos expressada em João 1.3, onde está
escrito: "Sem ele nada do que foi feito se fez". Foi Jesus quem
comprou a Igreja com o seu sangue (At 20.28) e morreu para ser o seu Senhor (Rm
14.9).
Deus
determinou: "Ele é a cabeça do corpo da igreja; é o princípio e o
primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência" (Cl
1.18). A Bíblia usa vários símbolos que apontam de modo claro o lugar que Jesus
tem e deve ter na igreja. Jesus ressuscitado é o mais importante credo da
Igreja. É isso que a distingue de qualquer outro tipo de sociedade ou religião.
6. A IGREJA COMO O CORPO DE
CRISTO
A
Igreja como o Corpo de Cristo (Ef 5.22,23) é um organismo vivo formado por
aqueles que pela salvação receberam uma nova vida através de Jesus (cf. Ef 2.1,5),
aquEle que vive em nós (Gl 2.20). É um corpo cuja cabeça é o próprio Cristo (Ef
1.22,23) que é o Salvador desse mesmo corpo (Ef 5.23). Como um corpo não pode
existir sem cabeça, assim também a Igreja não tem nenhuma condição de subsistir
sem Cristo, a sua cabeça.
7. A IGREJA COMO UM TEMPLO
A
Igreja como um templo (1 Co 3.16) constitui um símbolo que apresenta os crentes
como "pedras vivas" (cf. 1 Pe 2.4,5), que são edificados sobre o
verdadeiro fundamento que é Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16.18). Ele é a
pedra (At 4.11; 1 Pe 2.4) sobre a qual todos os membros da Igreja,
individualmente, estão fundados e edificados (Cl 2.7; Ef 2.20), gozando da
firmeza e da segurança que uma rocha proporciona (1 Pe 2.6,7) aos que sobre ela
se edificam (Mt 7.24). Esse fundamento não pode ser substituído por outro (1
Co 3.11), pois quem trocaria um fundamento na rocha por um outro na areia?
Todos sabemos que uma casa edificada sobre a areia desmorona... (cf. Mt
7.26,27).
8. A IGREJA COMO UM REBANHO
A
Igreja como um rebanho (At 20.28) é um símbolo que aponta para a necessidade da
atuação de Jesus como "o bom Pastor" (Jo 10.11), como "o Sumo
Pastor" (1 Pe 5.4), o "grande Pastor das ovelhas" (Hb 13.20),
que ajunta as suas ovelhas dispersas e as conduz ao rebanho (cf. Jo 10.16).
Sem
pastor, as ovelhas se espalham e se dispersam (Mt 9.36). Embora Jesus tenha
muitos servos escolhidos para cooperarem com o Bom Pastor no apascentamento das
ovelhas (1 Pe 5.1-3), somente Ele continua sendo a única força unificadora da
igreja — o rebanho do Senhor.
9. A IGREJA COMO UM CASTIÇAL
A
Igreja como um castiçal é um símbolo que o próprio Jesus usou (Ap 2.1). O
castiçal usado no tabernáculo era uma coluna com pedestal e uma lâmpada
central, de onde saíam seis braços laterais (três de cada lado) com uma lâmpada
em cada braço. A coluna com pedestal simboliza Jesus. Ele mesmo disse: "Eu
sou a luz do mundo" (Jo 8,12).
Os
braços que saem dos lados da coluna representam os crentes, os quais são
ligados em Jesus como as varas na videira (cf. Jo 15.1-15). Os
"braços" têm em Jesus o seu fundamento (1 Co 3.11). Por estar ligado
a Jesus, cada crente se torna uma luz no mundo (Mt 5.14; Fp 2.15). Esse símbolo
evidencia que sem Jesus não há nem castiçal nem brilho!
10. CADA MEMBRO CONSTITUI UMA PARTE RESPONSÁVEL NA IGREJA
Quando
Deus projetou a Igreja, determinou que cada crente possuísse uma responsabilidade
pessoal e definida na execução da grande obra que a ela foi confiada. Ou seja,
uma realidade que fica evidenciada de uma maneira prática quando observamos que
Deus deu a cada membro da Igreja uma missão específica e definida. O apóstolo Paulo
explica isso de modo detalhado em 1 Coríntios 12.12-31.
Nenhum
membro do corpo é sem importância, antes todos têm responsabilidade na execução
daquilo que cabe ao corpo fazer. A Bíblia fala, nesse sentido, da "justa
operação de cada parte" (Ef 4.16).
A
Bíblia diz que Deus entregou talentos a cada crente (cf. Mt 25.14-30; Lc 19.13)
e manda que "cada um administre aos outros o dom como o recebeu" (1
Pe 4.10) conforme o plano de Deus.
Cada
membro está investido de responsabilidade pessoal para tomar parte nas
atividades da igreja. Como cada braço do castiçal possuía uma lâmpada, assim
também cada crente é uma luz no mundo (Mt 5.14). A palavra profética diz que
Deus deu a cada um uma obra para fazer (Mc 13.34).
Convém
observar que foi porque esse plano de Deus funcionava plenamente na Igreja
Primitiva que ela se tornou tão poderosa na evangelização e sua mensagem se
expandiu velozmente. Todos os membros, naquele tempo, tomavam parte ativa nos
trabalhos da comunidade. Vejamos o exemplo em Jerusalém (At 8.1-3; 11.19,20),
em Filipos (Fp 1.5) e em Tessalônica (cf. 1 Ts 1.6-9).
Para a
igreja de hoje, só temos uma palavra a dizer: Esse "é bom caminho, e andai
por ele!" (Jr 6.16).