A parábola do fariseu e do
publicano ensina que o que Deus quer é que nossas orações sejam permeadas de
sinceridade e arrependimento. Quando oramos a Deus, devemos confiar em quem Ele
é, e não em quem nós somos. Jesus ensina que são felizes os humildes de
espíritos; aqueles que reconhecem a sua real condição diante de Deus.
1.
Interpretando a Parábola
Estamos
diante de uma parábola narrativa, direta e simples. E uma comparação de dois
personagens opostos por meio de uma justaposição: o fariseu e o publicano.
Depois de haver ensinado a respeito da necessidade e do poder da oração por
meio da parábola “do juiz iníquo”, Jesus conta essa parábola com o objetivo de
ensinar a atitude correta na hora da oração. Agora somos ensinados que não
basta perseverarmos na oração, é preciso cultivarmos uma atitude correta.
O
fariseu
pertencia a uma das principais seitas dos judeus, muito mais numerosa do que a
dos saduceus, e de mais influência entre o povo. Insistia no cumprimento
rigoroso da Lei e das tradições dos anciãos. Fariseu significa “separado”,
porque não somente se separava dos outros povos, mas também dos outros
israelitas. Os fariseus observavam as práticas de forma minuciosa; contudo,
esqueciam do espírito da Lei, como se nota na forma como se lavavam antes de
fazer as refeições, na lavagem dos copos, dos jarros, etc (Mc 7.3,4); em pagar
escrupulosamente o dízimo (Mt 23.23); na observância do sábado, etc.
Em Isaías 29.13 o profeta
criticava os hipócritas: “Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima
de mim e, com a boca e com os lábios, me honra, mas o seu coração se afasta
para longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de
homens, em que foi instruído”. O Comentário do Novo Testamento Aplicação
Pessoal destaca que “Jesus aplicou as palavras de Isaías a esses líderes
religiosos, porque eles podiam proferir as palavras corretas e fingir sua
devoção a Deus, mas seu coração estava longe dele e Jesus atacou a verdadeira
condição do seu coração”. Pois se preocupavam com detalhes do cotidiano e
desprezavam a observância da Lei de Deus e seu verdadeiro significado.
Os publicanos eram
cobradores de impostos públicos entre os antigos romanos. Os judeus
consideravam os publicanos traidores e apóstatas porque cobravam os impostos para
a nação que os oprimia. Eles eram julgados como pessoas de vil caráter, porque,
também, acabavam extorquindo grandes quantias de dinheiro do seu próprio povo
(Lc 3.12, 13; 19.8). Eles estavam classificados sempre entre os pecadores (Mt
9.10, 11), os pagãos (Mt 18.7) e as meretrizes (Mt 21.31). O povo murmurava
pelo fato de Jesus comer com eles (Mt 9.11; 11.19; Lc 5.29; 15.1,2). Mateus era
um publicano.
Champlin destaca que “na
antiguidade, as taxas e impostos frequentemente eram coletados por indivíduos
privados empregados com esse propósito, e não por agentes governamentais
oficiais, assim, tais indivíduos tiravam proveito da situação a fim de
auferirem ganhos desonestos”.87 E por esta razão que os publicanos estão
associados aos pecadores, reunindo assim “duas classes que tinham grande
afinidade de espírito. Pensava-se que nenhum publicano podia ser homem honesto,
tão má era a reputação da categoria”.
Os judeus da cidade de
Jerusalém tinham o costume de fazer orações nas horas costumeiras (9h da manhã
e 3h da tarde). Entretanto, mesmo fora dos horários regulares havia pessoas
orando no templo (Lc 2.37; At 22.17). Um fariseu e um publicano subiram ao
templo com o fim de orar à mesma hora. No aspecto religioso e moral reinava no
judaísmo daquele tempo uma grande distância entre essas duas classes do povo.
O fariseu, como vimos, era
tido como um homem que cumpria a Lei com exemplar rigorismo inatacável. Já o
publicano era considerado uma pessoa que vivia em flagrantes pecados e vícios,
era mesmo equiparado aos gentios. Essas duas figuras estão orando juntos à
mesma hora no templo. Eis o que diz a parábola.
Esta parábola nos ensina que
a religiosidade não tem valor para Deus quando não existe sinceridade de
coração. O fariseu e o publicano tiveram atitudes semelhantes, ou seja, estavam
buscando ao Senhor em oração, porém, o fariseu é reprovado por causa de sua
hipocrisia, enquanto que o publicano, mesmo sendo pecador, tem a aprovação
divina. “Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque
qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se
humilha será exaltado” (Lc 18.14).
O publicano é um exemplo de
alguém que tem consciência de sua condição espiritual. Diferente do fariseu, o
publicano coloca-se na presença de Deus com coração contrito, reconhecendo-se
como pecador e completamente dependente de Deus. Nesta parábola somos ensinados
sobre a necessidade de avaliarmos nossa condição espiritual quando nos
colocamos na presença de nosso Deus.
Lockyer destaca que “os dois
homens que subiram para orar no templo são diferentes em caráter, credo e na
forma de auto-exame, e, ambos se apresentam diante do Santo Deus, mas com uma
diferença radical de atitude”. Este autor também destaca que “aqui estão dois
indivíduos amplamente apartados um do outro, tanto em seu modo de viver como na
opinião que o público tinha deles; são representantes de duas classes — (o
primeiro) dos arrogantes mantenedores da lei e (o segundo) os desprezados
transgressores da lei”.
Esta parábola destaca a
necessidade de uma vida de oração realizada com propósito correto, de maneira
constante e com humildade no coração, reconhecendo a necessidade de ser
alcançado pela graça de Deus. Em Tiago 5.16 a Bíblia diz que “a oração feita
por um justo pode muito em seus efeitos”. Shedd e Bizerra destacam que a
“oração serve para acalmar o espírito e para receber do Senhor sabedoria, de
perceber mais claramente que o Senhor é bom e que sua misericórdia dura para
sempre, mesmo quando passamos pela tempestade”.91 O publicano entendeu essa
realidade, ao passo que o fariseu não julgava-se necessitado.
2.
A Hipocrisia do Fariseu
Inicialmente a parábola
contada por Jesus se detém no fariseu, com o objetivo de dizer como ele
formulava a sua oração. De acordo com uma das interpretações (Lc 18.11), o
fariseu postou-se em local isolado e orou. O texto enfatiza a posição distinta
e separada do fariseu. Ele postrou-se de maneira que chamava a atenção e atraía
sobre si todos os olhares dos presentes: “E, quando orares, não sejas como os
hipócritas, pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas e às esquinas das
ruas, para serem vistos pelos homens” (Mt 6.5).
Em relação ao comportamento
do fariseu enquanto orava, Plummer destaca que “o fariseu, na verdade, não está
orando. Ele não pede nada a Deus, e seu agradecimento é mera formalidade. De
relance, olha para Deus, mas se contempla a si mesmo”.92 J.N. Darby destaca que
“ele agradece a Deus pelo que ele é, e não pelo que Deus é”.
Os fariseus ficaram
conhecidos por dois grandes erros que cometiam ao orar; primeiro,
vangloriavam-se, e, segundo, usavam de vãs repetições. Richard Rice, na análise
sobre o legalismo religioso observou que “mais do que ingênuo, [o legalismo] é
diretamente pecaminoso. Ele surge da orgulhosa pressuposição de que seres
humanos caídos, neles próprios, podem merecer o favor divino, quando nada
poderia estar mais longe da verdade”.
Era um hábito comum orar em
pé, porém, o que Jesus condenava, não era o fato da posição em si, mas sim, a
motivação. O fariseu enquanto orava buscava reconhecimento da parte de outras
pessoas, por isso orava motivado em ser observado por alguém, buscando assim a
sua própria glória, o que é característica essencial de um hipócrita. Esta
parábola também enfatiza a sinceridade que deve estar presente na oração. Não é
questionado nesta parábola a quantidade de palavras ou expressões que contêm
uma oração, mas sim, a motivação e sinceridade das palavras proferidas.
O fariseu ora como todos os
devotos judeus: de pé, com os braços erguidos e a cabeça levantada, ele
agradece a Deus. Esta é a forma clássica da oração bíblica judaica: o louvor e
o agradecimento a Deus. O fariseu, antes de tudo, agradece a Deus por estar
isento dos vícios dos outros homens, e em seguida, porque é rico em obras meritórias.
O Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal destaca que “quando oravam em pé nas sinagogas, e
nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens, eles não estavam orando
realmente, por isso Jesus ensinou que encontramos a essência da oração não em
público, mas em uma comunicação particular com Deus, assim, para esses
hipócritas o louvor do público era todo galardão que receberíam”.
Em Mateus 6.5, Bruce destaca
que a “oração não tem a intenção de ser um jogo de memória para Deus, mas um
meio pelo qual os desejos do cristão são colocados debaixo do escrutínio de
Deus, e a pessoa que ora é lembrada do caráter, da vontade e dos propósitos de
Deus”.95 As palavras do fariseu eram hipócritas, ou seja, eram falsas e
dissimuladas. A hipocrisia faz com que uma pessoa comporte-se de maneira
contraditória em relação ao que ensina e ao que faz.
O tipo de oração que
encontramos no texto, apesar de parecer arrogante, parece que não era
desconhecido, R. Nehunia costumava orar assim: Graças Te dou, ó Senhor meu
Deus, que Tu lançaste a minha sorte entre os que se assentam na Casa da
erudição e que Tu não lançaste minha sorte com os que se assentam nas (esquinas
das) ruas, pois eu me levanto cedo e eles se levantam cedo, mas eu me levanto
cedo para as palavras da Torá e eles se levantam cedo para conversas frívolas;
eu labuto e eles labutam; mas eu labuto e recebo recompensa, e eles labutam e
não recebem recompensas; eu corro e eles correm, mas eu corro para a vida do
mundo futuro e eles correm para o poço da destruição (Morris).
O fariseu diz a respeito de
si mesmo que era rigorosamente verdadeiro, mas o espírito da sua oração era
errado. Não existe nenhuma consciência do pecado nem da necessidade nem da
humilde dependência de Deus. O fariseu quase que parabeniza a Deus por ter um
servo tão excelente. Depois de suas primeiras palavras, não se lembra mais de
Deus, apenas de si mesmo. O centro de sua oração é o que ele faz.
A oração do fariseu
inicialmente mostra quem ele é. Em seguida, ele passa a destacar as obras
excedentes que ele realiza. Excedia o jejum prescrito na lei (Lv 16.29ss) com
mais dois jejuns semanais. Excedia o dízimo (Lv 27.30, 32; Nm 18.21, 24). Ele
realmente agradece por quem ele é, mas não contente com isso, agradece também
pelo que ele faz para Deus.
3.
A Sinceridade do Publicano
O cobrador de impostos
parece desnorteado e confuso no local de culto. Ele não está apto nem mesmo
para assumir o comportamento normal de quem ora. Bate no peito como aquele que
está numa situação de desespero, suplica com a fórmula do pecador que não sabe
elencar seus pecados (SI 51.3). E a oração do pobre que confia totalmente em
Deus. Com profunda dor ele exclama: “Deus, tem misericórdia de mim, pecador!”
Nessa breve, porém, séria oração, a ênfase recai sobre as duas palavras “o
pecador”.
Quando o salmista expressa o
desespero de sua alma ante o pecado ele diz: “Porque eu conheço as minhas
transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” (SI 51.3). O
pensamento do publicano é semelhante ao pensamento do salmista, ou seja, ambos
reconhecerem o estado de degeneração espiritual que se encontravam. Morgan
destaca na análise do SI 51 que “a alma penitente clamava por perdão com base
na confissão. Subitamente, a intensidade da convicção se aprofunda à medida que
o ato pecaminoso é rastreado até chegar à causa na contaminação da natureza.
Isso leva a um clamor mais profundo. Enquanto o primeiro clamor é por perdão, o
segundo é por pureza, por limpeza de coração e renovação de espírito. A oração
continua na busca das coisas que seguem essa purificação, a manutenção da comunhão
e a percepção da alegria”.
O publicano nem conseguia
levantar os olhos. Além disso, ele golpeava o próprio peito. O termo grego
utilizado aqui (typtein), trata-se de
uma expressão forte e definida para uma contrição dolorosa e arrependida (Lc
23.48). O publicano sequer consegue formular muitas palavras. Nem mesmo fazendo
promessas ele conseguiría obter quaisquer direitos. Ele tem consciência de sua
condição. Ele se prostra cm sinceridade e arrependimento. A sua condição o
permite apenas render-se inteiramente às mãos de Deus.
Davi, em 1 Crônicas 29.18,
expressa que a sinceridade é elemento que agrada a Deus: “E bem sei eu, Deus
meu, que tu provas os corações e que da sinceridade te agradas (...)”.
MacDonald destaca que Davi “pediu que a devoção presente (sinceridade do
coração) de seu povo se tornasse uma característica permanente (inclina-lhe o
coração para contigo), e que seu filho tivesse coração íntegro na construção do
templo”.97
Para o fariseu, todos os
seres humanos eram pecadores. Segundo a confissão do publicano, porém, todos
eram justos, somente ele era o pecador. Estamos diante de uma oração que subia
das profundezas de um coração dilacerado pela dor.
A oração aceita é a do
publicano. Ela vem permeada de sinceridade e arrependimento diante de Deus. Ele
voltou para casa “justificado”, “inocentado dos seus pecados”. O princípio por
trás de tudo é que o que se exalta, será humilhado. Ninguém possui algo de que
se jactar diante de Deus. Quem se humilha, será exaltado: “Porquanto, qualquer
que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar
será exaltado” (Lc 14.11). O pecador arrependido que humildemente busca a
misericórdia de Deus, com certeza, a encontrará.
Embora não fosse um
religioso fervoroso, a sinceridade do publicano o colocou em situação de
destaque diante do Senhor, e isso foi possível, pelo fato de ter tido uma visão
sincera de sua condição espiritual pecaminosa. Diferente do fariseu, manifestou
publicamente, através de sua cabeça baixa e das batidas no próprio peito, sua
condição de miserabilidade diante de Deus. Ele não buscou reconhecimento,
aprovação ou até mesmo visibilidade das pessoas, pois o seu coração estava
completamente prostrado diante de Deus.
Conclusão
Será que o coração natural
do ser humano não é sempre semelhante ao do fariseu? Vê severamente os pecados
de outras pessoas, mas esquece dos próprios. O fariseu deixou o templo da mesma
maneira que entrou nele. Devemos orar como publicanos, pecadores que somos.
Devemos orar com sinceridade e arrependimento diante de Deus. Quem se curva ao
pó será amorosamente atraído ao coração do Pai (SI 51.19).
Referência:
GABY, Wagner Tadeu/ GABY, Eliel dos Santos. As Parábolas de Jesus. As verdades
e princípios divinos para uma vida abundante. 1ª edição de 2018 - CPAD
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