Disse Jesus: “Qual dentre vós que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai em busca da que se perdeu até encontrá-la?” (Lc 15.4).
Durante a Sua trajetória ministerial, o Senhor Jesus recebia diversas classes de pessoas que o procuravam, inclusive publicanos (coletores de impostos a serviço do governo romano) e pecadores, pessoas para quem o judaísmo não oferecia recursos para a mudança da conduta moral.
Por
causa de Sua solicitude, Jesus era visto como um líder populista e, por isso,
aos olhos de Seus acusadores, essa característica não configurava a do Messias tão
aguardado por aquela gente. Os religiosos não se “misturavam” com gente do
povo, mas alimentavam o mais profundo desprezo por essas pessoas (Jo 7.49).
Cristo, porém, jamais colocou obstáculos para aqueles que realmente
necessitavam alcançar a salvação através do perdão dos pecados.
Normalmente,
os discursos do Nazareno eram acompanhados de perto pelos escribas e fariseus
que costumavam desdenhar de Suas palavras. Jesus sabia que estava sendo
observado e, conhecendo a aspereza do coração daqueles homens, propôs uma das
mais belas histórias já registradas na Bíblia Sagrada: a Parábola do Bom
Pastor. Essa foi uma estratégia do Senhor no intuito de cativar as pessoas ao
Seu redor e ensinar-lhes a verdade acerca do Reino de Deus. O escritor Gary
Burge define, em seu livro “Jesus, O Contador de Histórias do Oriente Médio”
(CPAD), que o termo grego parábola é utilizado para descrever uma história
ilustrativa que cria um contraste ou ideia vibrante para seu ouvinte, e que em
alguns casos nada mais é do que uma cena.
A estratégia foi utilizada várias vezes por Jesus e em especial nessa ocasião, quando vários religiosos tomavam assento na plateia que o ouvia. Não demorou para que as censuras começassem a circular entre os clérigos judeus e essas reclamações não passaram despercebidas pelo Senhor. Naqueles dias, as façanhas de ilustres pastores já eram conhecidas através da literatura e da história de Israel, como Moisés e Davi. Apesar disso, essa atividade era considerada irrelevante para aqueles exigentes senhores, e isso pelo fato de os pastores trabalharem em lugares inóspitos e não terem como dedicar-se a “guardar a lei”.
Nessa
parábola,
Jesus lembra aos seus ouvintes a crítica registrada em Ezequiel 34, quando os
líderes hebreus são comparados àqueles pastores. Vale ressaltar que outros
“messias” e “mestres” já haviam se candidatado muito antes e tentado pastorear
Israel, mas o Senhor os igualou a ladrões e salteadores (Jo 10.8).
A
narrativa também mostra os perigos a que se expõe um pastor de ovelhas, cuja
responsabilidade é justamente evitar que seu rebanho fique à mercê de salteadores
ou feras do campo. Jesus, o Bom Pastor, sabia que o ápice de Seu ministério
culminaria em Seu sacrifício vicário a fim de satisfazer a justiça divina
contra o pecado. Ele foi o verdadeiro e perfeito sacrifício por nós. No momento
em que o Senhor foi imolado e tomou sobre si o castigo que nos trouxe a paz,
Ele serviu como sacerdote e oferta ao mesmo tempo (Hb 8.3). O Nazareno sabia
que Seu sacrifício seria indispensável para a redenção da humanidade e assim
cumpriu-se a antiga profecia de Isaías, quando Ele descreveu a vítima inocente
sendo conduzida ao lugar do sacrifício sem emitir algum protesto (Is 53.7).
Se
até aquele momento os judeus tiveram o desprazer de testemunhar as obras dos
falsos líderes, desta vez eles estavam tendo contato com o Sumo Pastor, que, no
decorrer da narrativa bíblica, garante a segurança de Seu rebanho e parte a fim
de localizar a ovelha perdida. Quando a encontra, acomoda-a em Seus ombros e
caminha de retorno ao lar. Especialistas afirmam que o deserto da Judeia era um
lugar hostil por acolher ladrões e predadores, além de sua topografia
apresentar um terreno irregular. Na parábola, o bom pastor apresenta como
principal característica o total devotamento em livrar as suas ovelhas do
perigo ,e é justamente a morte do Sumo Pastor que garante a salvação do rebanho
(Is 53.12; Mt 20.28; Mc 10.45). Jesus é cuidadoso, vigilante e amoroso, e essas
características o tornam único entre uma geração de mercenários que tentam
comercializar a fé que uma vez nos foi dada.
Nessa
parábola, Cristo revelou o interesse de Deus pelos que estão perdidos e, assim
como o rico insensato (Lc 12.19), tentam encontrar o significado da vida nos
prazeres oferecidos pelo pecado. Nenhum prazer mundano pode ser comparado ao
perfeito Pastor descrito no Salmo 23, cuja solicitude revela a sua abnegação em
enfrentar as intempéries do clima e da topografia palestina para transportar a
ovelha de trinta quilos nas costas, e se fosse necessário, sem dúvida, Ele se
arriscaria novamente para buscá-la.
O
texto explica porque o Senhor é aprazível pelos que estão à margem da
sociedade, mesmo as pessoas que tentam camuflar as suas necessidades sob o
manto da religiosidade ou da total apatia quanto ao Reino de Deus. O fato é que
o pastor Jesus é o único capaz de resgatar o homem de seus delitos e pecados.
Artigo:
Eduardo Araújo
DICAS
DE CURSOS BÍBLICOS